segunda-feira, 28 de julho de 2008

Tradições trapaceiras e trapaças tradicionais.


Perigo Otimista e Otimismo Perigoso

Apesar de semanas melancólicas no mercado financeiro, este ano presencia euforia e otimismo quanto à economia brasileira, que ao lado da incrível explosão tecnológica do século XXI, soma a um período positivamente inédito nesta que sempre foi uma nação de péssimos exemplos. De fato é agradável vivenciar a esperança, mesmo que não se materializem os objetivos básicos do progresso.

Populações brasileiras são escoladas em desapontamento, e seria surpreendente se as massas fossem pegas desprevenidas em novas crises. Deve-se menosprezar o pessimismo e enfatizar um realismo, que nada mais é do que responsabilidade. Especialistas afirmam que não há qualquer chance da situação desandar. Isso é sugerido mundialmente, pois, nos próprios Estados Unidos, os principais articuladores da economia garantem que toda retaguarda necessária está poupada e não haverá um público tratado como roedores do conto "O flautista de Hamelin", documentado pelos irmãos Grimm. Home brokers, investidores domésticos que operam nas bolsas das próprias residências via internet, formam legiões de amadores entusiasmados e apostam no sucesso dessa nova era econômica. É vital que estejam alertas e não sigam as melodias das promessas financeiras, até pousarem na sarjeta.

É uma retratação cruel aos prognósticos, que acenam o bem-estar tardio e almejado por todos no Brasil. Otimismo realista consiste em apenas não ser surpreendido por fracassos de nossos governantes. Afinal, uma análise geral da situação revela que são necessárias sérias mudanças para que faça sentido prever estabilidade plena. Mazelas já tradicionais parecem declarar-se intocáveis, como se dissessem: "se o Brasil vai dar certo ou não, nós não mudaremos. Terá de funcionar assim como está." Claro que o tempo é exíguo e a própria imaginação tem dificuldade em registrar viabilidade operacional em reformas das quais todos aparentam ter desistido. Alguns obstáculos não dão a menor trégua e heroísmo será pouco no êxito eventual dessa nação corroída por filosofias de "cultivo de dificuldades para venda de facilidades."

Estratégia Criminosa e Crimes Estratégicos

Uma reforma sindical concederia a mínima saúde política ao pequeno e médio empresário. Um dos maiores obstáculos refere-se à proporcionalidade eleitoral, problema recorrente em quase toda organização pública brasileira. Nas trincheiras empreendedoras, contradições absurdas ditam o funcionamento político das relações entre empresas e sindicatos, num sistema inutilmente complexo, conveniente à sua própria manutenção.

Existem duas categorias de sindicato: a econômica (sindicatos patronais) e a profissional (sindicatos dos trabalhadores). Como isto não será uma lista de bagunças burocráticas, uma ilustração é melhor capacitada a atingir os propósitos, pois detalhar o funcionamento do sistema assegura a destruição de qualquer texto.

Cada empresa paga taxas ao sindicato, e as quantias são proporcionais ao número de empregados. Nas eleições sindicais, a quantidade de empregados torna-se irrelevante, uma vez que cada empresa tem direito a um único voto. Assim, o voto do camarada que possui três empregados vale tanto quanto o voto de quem emprega trezentos, propiciando e – por que não? - incentivando a compra de votos, o que garante mandatos vitalícios ao quadro de diretores sindicais. Não há raciocínio que sustente a cobrança proporcional à quantidade de empregados, sem significado recíproco no direito de decidir os caminhos do desenvolvimento do campo profissional.

O paradoxo gritante está no resultado desses fatos, pois, ao sofrer com imposições das máfias sindicais, só resta ao empregador uma série de medidas remediais, como, por exemplo, a dispensa de muitos dos trabalhadores pelos quais o sindicato jura zelar. Eis a história de um dos maiores problemas nacionais, presente em todo âmbito da estrutura política.

São Paulo derrama seus ganhos suados na praça dos três poderes, proporcionais a seus ganhos astronômicos, quando comparados aos demais estados brasileiros. Infelizmente, não é honrada a verba que nutre as entranhas de nossa nação continental. Estados como o Acre, de renda insignificante à máquina federal, elegem o mesmo número de três senadores para sua representação, que anula a trinca de palhaços paulistas que desfilam em Brasília. Este orgulhoso Estado de São Paulo entra na trapaça viciada, ausente da ponta da língua deste povo, tolo por não reclamar de sua escravidão regulamentada.

Assim, torna-se complicado prever êxito na atual ascensão de nosso país e, ainda mais complicado, aturar uma desnorteante questão: "o que seria de nós se todas estas regras criminosas não estivessem estabelecidas, ou até jamais existido?"

3 comentários:

Unknown disse...

gostei meu, to precisando aprender bem como que funciona os sistem de checks and balances ai do sistem brasileiro pq eu nunca aprendi isso. Tem uns livros ai?

Aurelio Abreu disse...

Vc fala de accounting?? Se for, tenho sim um bem legal, mas não manjo mto não.

Rafael disse...

Um bom livro para poder-se entender o sistema brasileiro politico como um todo (incluindo ai os sindicatos e o congresso) e Sistema Politico Brasileiro: uma Introduçao, organizado por Lucia Avelar e Antonio Octavio Cintra; e tecnico mas instrutivo.

Quanto ao Senado, a iguladade de senadores por estado nao e o problema (e, alias, se fosse por proporcionalidade, o Sdueste e Sul mandariam mais do que ja mandam). O problema reside na forma como da-se o presidencialismo de coalizao brasileiro, em partidos fraquissimos e nas lideranças do senado (em especial nos comites), onde, como nos EUA, poucos politicos decidem o que todos acabam por aceitar (ou nao); no entanto, ao contratrio dos EUA, nossas comissoes sao obrigadas a reciclar seus politicos ao final dos mandatos destes, impedindo a especializaçao nas mais variadas areas.

E meu, muda ai as configuraçoes para poder botar acento nas palavras.