sexta-feira, 25 de julho de 2008

O certo após o errado.

(O Texto a seguir é um exercício sugerido pela professora Clemara Bidarra, que ilustra uma personagem adúltera fictícia e suas justificativas e desculpas.)
"Realmente cometi uma atrocidade que você nunca fez por merecer. Demonstrei enorme fraqueza de caráter e o que fiz é irreparável e imperdoável. Meu amor por você me parte em dois. Por um lado racional, desejo-lhe um amor novo que seja incapaz de pecar contra os laços mais sagrados. Já meu lado emocional me corrói pela falta que você me faria.
Pelo calor do momento me perco em um amontoado de pensamentos conflitantes, mas o fato é que meu ato imoral revela minhas neuroses. Talvez meu desejo seria de curar uma falta de suficiência varonil. Tento me voltar a uma possível culpa sua por não ter satisfeito minhas carências mas não enxergo ser possível sequer considerar esta razão. Meu ponto de vista não entende que haja qualquer comportamento seu envolvido em minha traição, e mesmo que você saiba que seja também sua culpa, eu me julgava superior e capaz de contornar tamanha fraqueza humana.
Outro conflito me vem à cabeça; pois considero você acima da possibilidade de permanecer ao meu lado e não julgo correto que você aceite e mantenha nosso matrimônio. Sou convicto que você se ama o suficiente e jamais permita uma continuidade nossa como casal. Sei que sempre será minha amiga, mas mesmo que sua enorme sensibilidade te estremeça, a operação é binária; cometi o erro dos erros, e você se desligou de nosso laço imediatamente. Com constrangimento me recordo das jóias que lhe trouxe da Cidade do Cabo, e só o fato de mencioná-las já é uma baixaria, mas não ouso entregá-las a você para que não surja qualquer idéia de tentativas de compensação; irão para instituições de caridade.
O que fiz é repugnante e me atola numa areia de vergonha que implora salvação a uma força maior. A já corrompida máscara que visto não mais disfarça uma personalidade imoral. Terei agora de me sucumbir a tratamentos psiquiátricos para poder encarar um novo relacionamento com uma mínima honra e dignidade. Engraçado é que eu admirava você a ponto de achar que você jamais seria capaz de se casar com um calhorda que te trairia. Pelo menos esse erro você cometeu, e até me alivia por perceber que errar numa situação destas nunca será individual. Abra o olho linda, eu achava que era um dos poucos homens decentes que existem, hoje considero possível que não há um homem que te mereça neste mundo.
Sugiro até que você considere agora uma união amorosa com outra mulher, pois dos homens que conheci até hoje, nenhum merece uma benção como você."

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