sexta-feira, 27 de março de 2009

Mais inteligência brasileira.

Diogo Mainardi é amargo, mas em isolados esforços consegue priorizar seu talento e humor refinado. Em recente edição da revista Veja, (seu maior canal de comunicação 'pop') o afiado e irredutível jornalista aplicou seus ofícios críticos às invenções brasileiras que são 'invenções inventadas' na cabeça dos historiadores nacionais.

O texto de Mainardi (encontra-se abaixo, e) acerta quanto ao exagerado mérito de Santos Dumont. Nosso venerado aviador foi um virtuoso exemplar, mas sua obra é relatada em soberania enganosa. Brasileiros vibram com certa superioridade patriota que sobrevive à tradição corrupta, mas equivocam-se quanto ao real valor de sua nação.

Populações submetem-se à trapaça secular do Brasil, mas a história oficiail omite fatores que ironicamente fortalecem talentos coletivos. Exemplo: Médicos brasileiros são craques graças à falta de estrutura, que força o improviso técnico durante situações de emergência.

Os irmãos Wright, dos Estados Unidos, foram os primeiros seres humanos alçados a vôo. Fabricaram uma aeronave na garagem que mantinham em casa, e conquistaram o título de inventores do avião. Santos Dumont não perde seu valor, pois realmente liderou nosso planeta à conquista do ar. (Clément Ader, um engenheiro francês também é citado como possível pioneiro da aviação, supostamente até treze anos antes dos próprios Wright.)

Interessante mesmo é a sacada de Mainardi. Ainda que nosso país represente lideranças em tecnologia de internet bancária, engenharia aeronáutica entre outras incríveis inovações, há algo de fraco e triste que é ao menos imbatível.

Nos Estados Unidos, há o famoso Social Security number, único documento necessário para registro geral. No Brasil, existem: R.G., Carteira Profissional, C.P.F., Título de Eleitor, e outros tantos documentos obscuros. A estúpida burocracia escolhe o caminho inverso, pois não quer imitar (seguir o exemplo) os poderosos da América do Norte.

Ao invés de unificar esse calhamaço de documentos, nossos gênios de plantão inventam algo chamado Poupa-Tempo. Colocam todas as repartições num único prédio que torna-se uma espécie de decathlon de filas que ‘resolvem’ o problema burocrático em tempo ideal. Em outras palavras, eles tampam o vazamento com chiclete.

Criatividade é um talento especial no Brasil, nos sentidos positivos e negativos. Do seqüestro relâmpago ao drible da foca, é difícil decidir se saímos no lucro ou no prejuízo. Deve depender da experiência individual, que mede o equilibrio entre as vantagens e desvantagens de ser e viver brasileiro.


INTELIGÊNCIA BRASILEIRA (DIOGO MAINARDI, REVISTA VEJA)


"A verdadeira proeza de Santos Dumont foi conseguir inventar o avião três anos depois deo avião ter sido inventado pelos irmãos Wright"
– Chester.
– Copo de polipropileno.
– Chinelo de dedo.
Uma empresa internacional de assessoria, Monitor Group, publicou uma lista com as 101 maiores descobertas brasileiras. É um retrato da engenhosidade nacional. Quem precisa de Arquimedes, se nós criamos a lombada eletrônica? Quem precisa de Leonardo da Vinci, se nós criamos a caipirosca engarrafada? Quem precisa de Thomas Edison, se nós criamos o fast-food de bobó de camarão?

Chu Ming Silveira é autora de uma das 101 maiores descobertas brasileiras: o orelhão. A ideia é particularmente inovadora porque, em vez de diminuir o barulho da rua, como todas as outras cabines de telefone espalhadas pelo mundo, o orelhão, funcionando como uma grande orelha, tem a singularidade de captar os ruídos externos e amplificá-los.

Antes que Chu Ming Silveira desenvolvesse o projeto do orelhão, o Brasil teve outros inventores. O maior deles: Alberto Santos Dumont. Ele é reconhecido por todos os brasileiros como o inventor do avião. Mas sua verdadeira proeza foi conseguir inventar o avião três anos depois de o avião ter sido inventado pelos irmãos Wright. Inventar algo que nunca existiu, como os irmãos Wright, é incomparavelmente mais simples e rudimentar do que inventar algo que já existe, como Santos Dumont. Ele está para a aeronáutica assim como Al Gore está para a internet. Santos Dumont é o Al Gore dos céus.

No ano passado, Dilma Rousseff declarou que a descoberta de petróleo na camada pré-sal "foi produzida pela inteligência brasileira e pela tecnologia brasileira". De fato, o petróleo descoberto no pré-sal consta da lista do Monitor Group, ao lado de outros triunfos da inteligência brasileira e da tecnologia brasileira, como a macarronada pré-cozida da cadeia de restaurantes Spoleto. Para perfurar o terreno até o pré-sal, a Petrobras arrendou duas sondas. A primeira, Ocean Clipper, foi fei-ta em Kobe, pela Mitsubishi, e pertence à Diamond Offshore. A segunda, Paul Wolff, foi feita em Mississippi, pela Ingalls, e pertence à Noble Corporation.

Quando se analisam os contratos assinados pela Petrobras para explorar o petróleo na camada pré-sal, despontam nomes de companhias genuinamente brasileiras como Schlumberger, Aker Solutions, Halliburton, Subsea 7, FMC Technologies, Technip e Mitsui Ocean Development. Em janeiro, um engenheiro estrangeiro disse à revista Offshore que o Brasil é inexperiente no assunto e que "tem um monte de problemas pela frente". Mas quem é capaz de fazer uma macarronada pré-cozida seguramente também é capaz de fazer um buraco no solo para retirar o petróleo do pré-sal.

A inteligência brasileira e a tecnologia brasileira produziram, na Bahia, o orelhão em forma de berimbau. Como é que a gente pode falhar?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

2009 primitivo.

Escolher a guerra na resolução de conflitos é como se a medicina adotasse o homicídio para curar doenças. Violência é irracional, e define limitações primitivas à espécie que governa a realidade atual. Pacifismo exige esforço devido ao acúmulo histórico da humanidade, mas é uma evolução tão importante quanto o nascimento da palavra escrita.

Avanços científicos ou tecnológicos não são requerimentos para que se atinja a paz mundial. Há duas alternativas possíveis para descrever nossos líderes políticos: simplesmente limitados ou simplesmente cruéis. Guerras são produtos de uma visão débil, por não enxergar soluções sem força bruta. O exemplo atual dos povos religiosos que entram em atrito representam um aglomerado de burros, pois nosso planeta é uma bola só. Somos humanos com culturas ricas e diversas, mas não é como a diferença entre um leão e um urso. Guerras assumem estupidez unida à crueldade.

Quando líderes assumem o palanque em defesa à beligerância, comprovam-se como indivíduos desprovidos de inteligência, ou ao menos assim julgam seus ouvintes. De nada adianta explicar raciocínio bélico a jornalistas, se a guerra é justamente o fim dos dizeres. Vá explicar a seus inimigos, vá convencer seus inimigos, aí sim que é validado seu discurso. Capacidades racionais medianas são suficientes na concepção de um sistema que organize soluções pacíficas. Debates entre representantes israelitas e palestinos já foram transmitidos em alguns canais, e retratam dois palhaços incapazes de perceber a característica primitiva adotada por seus governantes. Judaísmo e Islamismo são insignificantes ao lado dos termos: guerra e paz.

'Difícil' e 'fácil' estão numa categoria, enquanto que 'impossível' está em outra. Utopias não são objetivos impossíveis, mesmo que representem um grau de dificuldade máxima de serem atingidas. A civilização futura que abolir as guerras ridicularizará nossos valores, pois não atravessamos a barreira que separa um mundo em guerra do mundo em paz.