sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Malas que viajaram à China.

Pelé, Falcão, e outros geniais ex-atletas hoje assustam uma pasma audiência de transmissões esportivas, graças aos comentários patéticos e eventualmente perigosos. Nos últimos tempos temos conhecido o maior calhorda entre ex-atletas na televisão. Oscar Schmidt é lendário e seu mito se mantém desde um desempenho soberano contra a seleção dos Estados Unidos, nos jogos Pan-Americanos de 1986. Situados em Indianápolis, no Estado de Indiana, este evento esportivo foi um marco na história do basquete americano, pois o fundamento das cestas de três pontos ainda era novidade, instituído como regra naquela década.

É graças a esta deficiência americana que a seleção brasileira foi capaz de dominar os favoritos 'donos da casa' na conquista da medalha de ouro. Oscar sempre manteve uma habilidade surpreendente nos arremessos de três pontos, e seu feito jamais será esquecido. Infelizmente, o ídolo tem cometido sucessivas falhas de comportamento, que conferem ao "Mão Santa" o título de maior chato entre os comentaristas esportivos da televisão brasileira. Pior é que a concorrência para se conquistar um posto como tal é enorme, mas Oscar compromete sua fama não só nas cabines de transmissão, já que a maior de suas 'mancadas' foi vista nas arquibancadas.

Parece que a história faz piada, pois o herói dos jogos de Indianápolis se tornou vilão em 2007, no Rio de Janeiro e contra os próprios ex-adversários. A perigo de comprometer a já duvidosa capacidade do Brasil em sediar uma olimpíada, Oscar Schmidt liderou uma vaia mesquinha contra a seleção de ginástica artística dos Estados Unidos. O que leva um atleta aposentado a protagonizar uma atitude de tão baixo nível?

Nada justifica o ocorrido, e fica a dúvida quanto à realização das vaias se o "mala" do Oscar não estivesse presente para liderá-las. Ginástica artística é um esporte extremamente delicado, e mesmo se não houvesse interesse numa concorrência em sediar jogos olímpicos, vaiar é uma atitude incoerente ao evento. Surpreendeu, e o ex-cestinha também estabeleceu uma personalidade grotesca como representante da população brasileira. Nestes jogos de Pequim, como garantia de características chulas, este chato já declarou algumas pérolas absurdas durante a cerimônia de abertura.

Por incrível que pareça, Oscar foi capaz de alegar que o significado de portar a bandeira da pátria no desfile de cada nação, era mais importante que conquistar uma medalha de ouro. Azedo aos limites do basquete brasileiro na escala de disputa internacional, Oscar falou nada menos que uma calúnia. A honra do porta-bandeira é inquestionável, mas a conquista do ouro olímpico é um feito milenar. Não há ápice esportivo além da vitória numa final olímpica, e nada explica o que fundamentou o raciocínio deste ex-jogador; foi uma de suas piores verborragias.

Como comentarista fixo da Rede Globo, ainda encaixou outras besteiras que, como sempre, têm uma clara frustração subjetiva como razão. Na entrada da delegação Alemã ao estádio, Oscar afirmou que Dirk Nowitzki é o atual melhor jogador de basquete do mundo. O alemão é estrela da liga de basquete americana (National Basketball Association ou NBA), e é um dos maiores talentos mundiais no esporte, mas não há como defender que craques como Kobe Bryant e Lebron James, da seleção dos Estados Unidos, estão abaixo do nível técnico de Nowitzki. A maioria esmagadora de comentaristas e ex-atletas do basquete irá garantir que Nowitzki não chega aos pés destes dois jogadores americanos.

Obrigado Oscar!! Com Galvão Bueno, você forma uma dupla que garante entretenimento maior que qualquer evento de picadeiro circense!

sábado, 9 de agosto de 2008

História da vida de um Real.

João, Paulo e Jorge são grandes amigos além de sócios, e estavam a caminho de um evento musical em São Paulo. João dirigia seu bom carro, mas se perdeu no bairro residencial que circunda o estabelecimento onde pretendiam chegar.

Foram alguns quarteirões e algumas ruas com nomes semelhantes, e Jorge sugeriu que parassem para perguntar ao guarda de rua quanto à localidade destinada. Concordaram e encostaram em frente à guarita. De lá, na penumbra da viela, saiu um vigilante de uns sessenta anos. João friamente perguntou onde ficava a tal rua e ao ouvir a resposta, imediatamente arrancou adiante seu automóvel. Jorge então reclamou que faltou educação na abordagem de João, que reagiu à bronca e reconheceu que havia agido de maneira grosseira perante um senhor prestativo, trabalhador e merecedor de toda gentileza, etiqueta e respeito. Paulo pensou três segundos, e discordou com veemência, pois apontou aos dois amigões que o passeio era em São Paulo/SP. Paulo já havia sido abordado por uma espécie diferente de delinqüente.

Modernas guerras urbanas são palcos do inusitado, a ponto de inverterem o protocolo da boa educação e etiqueta tradicional européia. O 'por favor' e 'obrigado' se firmou desde antigamente como regra de conduta social e profissional, e faz parte da cultura e aprendizado lingüístico do brasileiro. Já na comédia da rotina metropolitana, a ironia prolifera um término a estes costumes, que tornam-se instintos de prudência e bom senso, ou até o que pode ser chamado de "etiqueta de guerrilha".

Está aí a maneira correta de se comportar em tais situações. A personagem responsável por tais novas posturas é o criminoso da 'lábia'. Esta categoria de bandido é antiga, mas hoje parece crescer, pois a prática padrão do ladrão está bem 'manjada' e oprimida. O atual alerta geral impede que estes crimes fluam com o teor explícito de uma ou duas décadas atrás. Mais do que nunca, cultivaram-se estratégias de ludibrio e manipulação das vítimas, e abordagens tomam forma de interação que aproveita uma sociabilidade e bondade do brasileiro, que sem perceber, permite o domínio situacional que abre caminho à infração criminal. Vide a moda de seqüestros fictícios pelo telefone. O perigo está na suscetibilidade do abordado.

Não há muita variação na aproximação destes delinqüentes, que normalmente se resume ao pedido de informação ou ajuda. Alguns bandidos se fingem de estrangeiros perdidos que pedem assistência. Outros experimentam um enredo ainda mais teatral, mas todos dependem de uma certa postura formal ou boa etiqueta, que convence o alvo quanto à identidade oposta ao estereótipo criminal.

"O bandido normal seria incapaz de apresentar boas maneiras e linguajar articulado."
Quando estabelece uma confiabilidade, o criminoso pesca fraquezas na vítima até encontrar o momento ideal para revelar e praticar seu real intuito.

Graças a esta nova espécie de crime, o simples ato de pedir informações em vias públicas virou razão para desconfiança. Ninguém faz questão de estabelecer amizades aleatórias por nossas metrópoles, mas é uma lástima que sejamos obrigados a adotar comportamento grosseiro como garantia de sinceridade, e por incrível que pareça, ajudar a manter paz individual e coletiva. Esta nova mentalidade é uma via de mão dupla. A ausência de formalidades educadas assegura o abordado, e também avisa o 'malandro' que as pessoas em questão conduzem-se atentas e irredutíveis. É a ironia que repete uma máxima: a vida real é mais complicada que a ficção.


Capturei estas imagens faz algumas semanas. O PM está c/ sua arma sacada, mas usa sua mão para cobrir o objeto e não assustar a multidão. Note que assim que ligo a câmera, o policial se vira e olha profundamente em minha direção; aparente intuição. Eu estava atrás de uma fila de carros, portanto invisível ao soldado. Em seguida ele segue com seu trabalho.

Não acho necessário sacar a arma nesta situação, a não ser em último caso. Situações como essa representam momentos sérios, como a sensação do 'revistado' em sua posição de "mãos atrás da cabeça" que representam cumprimento de uma ameaça de morte, mesmo que condizente com a prática da autoridade jurídica. De qualquer forma, o PM que critico hoje poderá me salvar amanhã, então é isso.